domingo, 20 de outubro de 2013

Fatos e Ficção

Fatos e Ficção
 Nesse especial falarei da integração entre realidade e ficção de alguns pontos da Saga Revolucionária do Foice-e-Martelo com pequenos textos explicativos. Não é um estudo historiográfico aprofundado e não se pretende ser. E também não abordará todos os "fatos e ficção" encontrados em todas as temporadas.

-MOSOL: Movimento Socialista pela Liberdade. Primeira organização do Foice-e-Martelo é, evidentemente, fictícia.

-DOE: O Departamento de Operações Especiais é um departamento secreto do governo dos Estados Unidos que existe apenas nessa história. Porém, não é invenção que ao longo da história da humanidade, governos fizeram testes ilegais com cobaias humanas. Essas cobaias também eram presos (comuns, políticos ou de guerra) e o caso mais famoso ocorreu na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial, onde médicos nazistas faziam experimentos aterrorizantes com os prisioneiros dos Campos de Concentração. Um dos médicos responsáveis por essas pesquisas foi o Doutor Mengele, que depois da guerra fugiu para a América do Sul, passando possivelmente pela Argentina. Em nosso livro, porém, ele continua suas pesquisas em seres humanos trabalhando pelo órgão secreto DOE.
A sigla DOE também tem o propósito de fazer referência à polícia política da Ditadura Militar no Brasil DOI-CODE que, numa trágica ironia também exibia um nome que nos remete à dor.

-Clara Fraser: Clara Fraser foi realmente um militante, feminista e trotskista da década de 1960 nos Estados Unidos. Porém, diferente da Clara Fraser personagem do livro, ela era branca e foi fundadora do Freedom Socialist Party (FSP), que também aparece na história. Portanto mais do que uma apropriação da personagem histórica, foi uma homenagem. Clara foi uma importante figura do feminismo e do trotskismo nos Estados Unidos, denunciando a postura machista e ortodoxa do principal partido trotskista do país na época, o Socialist Work Party (SWP).

-Ângela Davis: Assim como Clara Fraser, a personagem Ângela, esposa de Leonard durante a Primeira Temporada da saga, não é uma apropriação direta da personalidade da vida real, mas sim uma homenagem a uma figura importante da esquerda americana e mundial. Ângela Davis tomou notoriedade na década de 1970 quando integrou o Partido Comunista dos Estados Unidos (tão criticado em nossa saga) e os Panteras Negras. Ângela segue até hoje sua luta contra o racismo.

-Ronald Reagan, Governador da Califórnia: - Ronald Reagan: Dentre as apropriações de personagens reais para nossa história, talvez Ronald Reagan seja um dos melhores representantes de um inimigo da esquerda. Reagan foi um ator conhecido e lendário conservador integrante do Partido Republicano. Ficou conhecido mundialmente na década de 1980 quando se tornou presidente dos Estados Unidos e famoso por seus discursos irônicos e ofensivos contra Cuba, União Soviética e o comunismo em geral. Para além do discurso, Reagan implementou uma política econômica que iria enterrar o que restava do New Deal de Roosevelt e o Wellfare State (Estado de Bem-estar Social). Internacionalmente aplicou uma política agressiva contra qualquer forma de movimento socialista, nacionalista ou/e anti-imperialista. Financiou a guerrilha dos chamados “contra” que lutavam para derrubar o governo popular sandinista na Nicarágua, além de fazer um bloqueio econômico contra o país. Invadiu a ilha de Granada e bombardeou Líbia de Kadhafi, que na época tinha um regime de caráter anti-imperialista, apesar de autoritário. Entre muitas outras coisas.
A histeria anticomunista de Reagan, porém, não era uma novidade. Ele governou a Califórnia de 1967 até 1975, enfrentando com mão de ferro todos os protestos do movimento estudantil contra a Guerra do Vietnam e contra reformas nas universidades que feriam a autonomia. Em 1970 ele disse Referindo-se aos protestos estudantis: "Se for necessário um banho de sangue, vamos a isso."
Portanto, nada mais natural que esse homem apareça em nossa história como um notório vilão. Aqui ele também governou a Califórnia na década de 1960, mas evidentemente Reagan nunca fez parte de uma organização neonazista intitulada “Os 88 de Cristo”, mesmo que muitas das suas ações como governador teriam deixado Hitler orgulhoso.  

-Central Sindical AFL e o Crime Organizado: Em “Origens – Parte 1” eu descrevo a relação degenerada entre a principal central sindical americana AFL (American Federation of Labor) com o patronato, o governo e a máfia, o que colocava a vida dos pais de Errico em risco, pois estes eram militantes anarquistas que faziam oposição à central.
            Nessa caracterização não há nada de ficção. A AFL realmente existiu como a primeira central sindical dos Estados Unidos, criada em 1881 foi inicialmente uma legítima representante da luta dos operários do país. Em 1886, ocorreram 5 mil greves pela redução da jornada para oito horas semanais. Logo depois, com a expansão imperialista norte-americana, houve a formação de uma aristocracia operária que passou a justificar a espoliação dos trabalhadores das nações saqueadas. Passou a ser abertamente anticomunista e defendeu, em 1917, o envio de tropas americanas à Rússia revolucionária para por fim à Revolução Socialista daquele país. Renegou a luta de classes e as greves. Torna-se cúmplice da repressão policial. A prática antidemocrática atinge o seu apogeu na fase da “grande depressão”. Diante da revolta dos operários contra a explosão do desemprego, a AFL realiza um acordo com a máfia. Transforma suas sedes em postos de contrabando em troca da ajuda dos gangsteres na repressão às lideranças rebeldes. A máfia chega a ocupar postos na executiva da central. Al Capone, líder do mundo do crime, justificava a violência nos sindicatos: “É preciso manter o trabalhador afastado da literatura vermelha e do logro comunista”. 
Anos mais tarde a AFL juntou-se com a CIO, tornando-se a central sindical AFL-CIO, mas isso não mudou muito o caráter desta central.

 -A Grande Depressão: Ainda em “Origens – Parte 1” Eu descrevo as consequências nefastas da crise de 29 e da Grande Depressão para Maria e Antônio Bordiga, pais de Errico, e para toda a classe trabalhadora. Antônio teve seu salário reduzido e Maria perdeu o emprego.
            Esse também foi um fato descrito nesse livro que tem fortes embasamentos na realidade. A Grande Depressão atingiu com força a classe trabalhadora americana (como sempre acontece em qualquer crise do capitalismo). Em 1930 a taxa de desemprego era de 9%, três anos depois ela subira para 25%. Maria e Antônio também cogitam colocar Errico para trabalhar com nove anos de idade. O Trabalho infantil nos Estados Unidos também não era nenhuma novidade até aquele período. Leis trabalhistas que regulariam esse tipo de atividades só foram introduzidas com Roosevelt a partir de 1932 com o New Deal.
 
Greve e Repressão: Antônio e Maria participam, no final de “Origens – Parte 1” de uma greve geral em 1930, onde são mortos pela repressão policial. A greve em si é ficção, mas o fato da repressão ao movimento operário nos Estados Unidos chegar até o nível em que eles atiravam contra trabalhadores grevistas não é invenção. Os principais acontecimentos desse tipo, porém, ocorreram no final do sec. XIX e início do XX, sendo o mais conhecido deles em Chicago quando cerca de 200 mil trabalhadores, em 1º de maio de 1886 iniciaram um movimento de protesto no Parque Haymarket de Chicago. Reivindicavam oito horas de trabalho por dia, além de outros benefícios. A forte repressão matou e feriu diversos operários. Desde então o dia Primeiro de Maio é considerado o Dia do Trabalhador.
  
- Eleição do John F. Kennedy: No início de “Origens - parte 2”, Errico se perguntou se a eleição de Kennedy, que de fato foi eleito em 1960 poderia dar uma acalmada nos ânimos exaltados do início dos anos 1960.

- Envolvimento de Kennedy com a Guerra do Vietnam: No primeiro episodio da Saga Revolucionária do Foice-e-Martelo (1961), o então presidente dos Estados Unidos, Kennedy conversa com o fictício departamento secreto de governo (DOE) e diz que os Estados Unidos haviam enviado secretamente tropas para lutar no Vietnam. Mas até onde isso é verdade? Na realidade o envolvimento de Kennedy com o conflito não era inteiramente secreto.  Em 1961 o governo havia enviado “observadores” militares que já mostrava certo nível de envolvimento e uma preocupação, para não dizer engajamento, do país no conflito bélico entre o Vietnam do Sul (capitalista) e o Vietnam do Norte (comunista). Em 1º de novembro de 1963, dias antes do assassinato de JFK, aí sim numa operação secreta, a CIA ajuda um golpe militar contra o governo do impopular Diem, no Vietnam do Sul. 

-Fusão Sindical e Criação da AFL-CIO: Durante a saga do Foice-e-Martelo, ele enfrenta a Central Sindical AFL-CIO, que foi tão degenerada quanto a AFL, cujos pais de Errico enfrentaram.
Em 1938, com o aumento das greves operárias provocadas pela recessão, lideranças descontentes rompem com a AFL e organizam o CIO (Congresso das Organizações Industriais), no primeiro grande racha do sindicalismo estadunidense. Ele se coloca como alternativa para a organização dos trabalhadores semi-especializados, dos negros e desempregados. O CIO ganha força durante a II Guerra Mundial. A esperança da construção de um novo sindicalismo nos EUA, independente e classista, não consegue sobrepor à poderosa burguesia imperialista. Diante da violenta repressão desencadeada pela “guerra fria”, os dirigentes do CIO começam a dar sinais de fraqueza. As corporações capitalistas se recusam a negociar com seus sindicatos afiliados e o parlamento aprova a lei Taft-Hartley, em 1947, proibindo o registro de entidades “comunistas”. Em 1948, sua convenção de Portland decide adequar os estatutos às restrições da legislação federal. Um ano depois, na convenção de Cleveland, dez organizações afiliadas, representando um milhão de trabalhadores, são expulsas por manterem em seus programas a luta contra o capitalismo. Taxados de comunistas, os sindicalistas progressistas são expulsos das entidades afiliadas. Em dezembro de 1955 a AFL e o CIO se fundem.

A relação entre a máfia e a nova central sindical AFL-CIO, volta a ser abordada de forma fictícia no episódio nove da primeira temporada, quando Il Papa, o vilão mafioso fictício, chefe da máfia apóia a eleição de George  Meany (então presidente da entidade na realidade). Depois Il Papa interfere na eleição sindical dos portuários de Oakland para impedir que a esquerda ganhasse.


Carlos Altamirano e o Partido Socialista chileno: Carlos Altamirano foi uma personalidade real da política chilena e entrou em nossa história quando Foice-e-Martelo e seus companheiros vão para o Chile lutar contra Lord Deum. Ele é apresentado como líder de uma corrente revolucionária do Partido Socialista. O Chile em 1961 era governado pelo conservador Jorge Alessandri que derrotara o candidato do Partido Socialista Salvador Allende. Altamirano e Allende foram eternizados pela história a partir de 1970 quando a frente de esquerda chamada Unidad Popular, vence as eleições e Salvador Allende é eleito o primeiro presidente socialista do Chile.
Desde então já havia uma grande divergência dentro da Unidade Popular. Salvador Allende, apoiado principalmente pelo Partido Comunista Chileno, acreditava que poderia construir uma sociedade socialista chegando ao poder através de eleições democráticas liberais e realizando reformas profundas no capitalismo e com intensa mobilização popular transformar a sociedade.
Já a maioria do Partido Socialista, o qual Carlos Altamirano era Secretário Geral desde 1971, assim como outras organizações menores, acreditavam que era importante apoiar o governo de Allende, mas ao mesmo tempo alertavam para a necessidade de armar a classe trabalhadora e se preparar para a reação da direita conservadora. Com o apoio dos Estados Unidos, a direita nunca assistiria calada as reformas de Allende e segundo essas correntes, se o governo continuasse apostando no diálogo com o centro (Democracia Cristã) e na institucionalidade, iria ser derrubado, como de fato aconteceu.
A nossa história se passa dez anos antes e por isso Carlos Altamirano não era Secretário Geral do partido, mas já havia sido eleito deputado.

Rumiñahui, O Guerreiro Inca: No episódio quatro da saga, Foice-e-Martelo recorre a um xamã inca para conseguir elevar seus poderes e derrotar Lord Deum. O xamã lhe entrega as cinzas do guerreiro inca Rumiñahui. A lenda das cinzas de Rumiñahui que daria poder e conhecimento a quem possuísse foi inventada por mim, mas o guerreiro realmente existiu. Ele foi um dos generais do Império Inca e lutou contra os espanhóis por um ano e cinco meses, mesmo após a morte do último imperador Inca: Atahualpa. Foi perseguido pelo conquistador espanhol Francisco Pizarro e antes de ser capturado preferiu se matar. Rumiñahui teve sua coluna partida, mas não morreu. Foi preso, torturado, queimado e desmembrado em 1533.
          
Joseph Alois Ratzinger, o Papa Bento XVI: Na vida real Ratzinger nasceu em 1927 na Alemanha onde, na infância fez parte da famosa Juventude Hitlerista. Entrou para a Igreja Apostólica Católica Romana e quando era cardeal foi um dos principais perseguidores da Teologia da Libertação, uma corrente da Igreja Católica profundamente ligada às causas sociais das camadas mais oprimidas da população. Em 1985 o teólogo brasileiro Leonardo Boff teve a honra de receber o voto de silêncio diretamente de Ratzinger. Em 2005 o alemão alcançou o mais alto cargo da hierarquia da Igreja, sendo nomeado o 265º papa da história, com o nome de Bento XVI.
Em nossa história o destino de Ratzinger toma rumos inesperados quando ele acha uma relíquia sagrada poderosa e viaja pelo mundo tentando achar uma liderança política capaz de impor suas ideias conservadores ao mundo. Até que em 1962 luta contra o Foice-e-Martelo na Catedral de Santiago do Chile e é derrotado com a ajuda do espírito do guerreiro indígena Rumiñahui.
MIR e a Población de Nueva Harvana: O Movimiento de Izquerda Revolucionaria (MIR) foi uma das organizações da esquerda revolucionária do Chile, que tinha como referência as teorias de guerrilha de Che Guevara. Assim como diversas outras organizações de esquerda, sua militância nas poblaciones era intenso. As Poblaciones são como favelas formada pelo deslocamento de população pobre no Chile. O MIR atuou principalmente na población de Nueva Harvana onde, de fato, organizou um tribunal popular revolucionário.
            Em nossa história, o tribunal popular de Nueva Harvana foi responsável pelo julgamento e execução do super vilão Lord Deum.

Students for a Democratic Society (SDS): O SDS foi a maior e principal organização estudantil dos Estados Unidos na década onde nossa história acontece. Foi fundado em 1960 e dissolvido em 1969. Baseado no princípio da ação direta atuou em diversos protestos contra a guerra do Vietnam e pelos direitos civis dos negros. Inúmeras organizações de esquerda atuavam no SDS e até mesmo Clara Fraser (A verdadeira), militante do Freedom Socialisty Party participou de suas fileiras. O SDS também é conhecido como uma das principais organizações da Nova Esquerda e por isso é citado com alguma frequência em nossa história.  
Tom Hayden que aparece pela primeira vez na Saga Revolucionária do Foice-e-Martelo no capítulo sete da primeira temporada como representante do SDS, realmente foi um integrante importante dessa organização e ocupou o cargo de presidente entre 1962 e 1963.

Freedom Socialist Party (FSP): O FSP aparece pela primeira vez em nossa história no capitulo sete, no ano de 1962 e depois se torna o principal aliado da organização fictícia do Foice-e-Martelo (MOSOL). Juntos formam a Frente Revolucionária (FR). O Freendom Socialist Party verdadeiro foi fundado somente em 1966 devido a um racha no principal partido trotskista dos Estados Unidos da época, o Socialist Woker Party (SWP), que na opinião dos fundadores do FSP, não via a luta feminista como importante na construção de uma sociedade socialista. Além disso, no que tange o movimento negro, o SWP apoiou a Nação do Islã que, como veremos a seguir, não tinha uma visão socialista de sociedade. A personalidade real Clara Fraser foi a principal figura pública do partido que existe até hoje.

Nação do Islã: Uma característica peculiar do movimento negro nos Estados Unidos é a grande influência do islamismo e dentro desse grupo a Nação do Islã foi o principal. Evidentemente as igrejas cristãs protestantes também tiveram papel crucial, com lideranças políticas como o pastor Martin Luther King Jr., mas diferente dos cristão, a Nação do Islã tinha uma visão de que não era possível construir uma sociedade justa misturando negros e brancos. Eles acreditavam que um branco nunca poderia entender o sofrimento de um negro e por isso rejeitavam qualquer colaboração com movimentos de brancos. Malcolm X foi a principal figura publica do grupo, porém o líder era Elijah Muhammad que, como veremos mais adiante, se desentendeu com Malcolm o que culminou com a saída do último em 1963. 

Os Mortos na Invasão do DOE e o Massacre de Kent State: No início do capitulo oito da saga, durante o velório da personagem fictícia Ângela Davis, Leonard homenageia outros quatro companheiros mortos durante a invasão ao prédio do DOE: Jeffrey Miller; Sandra Scheuer; William Schroeder; Allison Krause. Esses nomes não foram escolhidos ao acaso. É minha homenagem aos quatro estudantes mortos durante o episodio conhecido como “Massacre de Kent Sate”, quando durante protestos estudantis contra a guerra do Vietnam, na Universidade Estadual de Kent, Ohio, a Guarda Nacional abriu fogo contra os estudantes matando esses quatro jovens e ferindo mais oito pessoas.

Ku Klux Klan: A KKK é uma organização racista americana que existiu em três longos períodos da história do país de 1865 à 1870; de 1915 à 1944 e de 1945 até os dias atuais. A KKK chegou a ter, em seu auge, 4 milhões de membros. A primeira Ku Klux Klan foi fundada pelo general Nathan Bedford Forrest na cidade de Pulaski, Tennessee, após o final da Guerra Civil Americana. Seu objetivo era impedir a integração social dos negros recém-libertados como, por exemplo, adquirir terras ou ter direitos civis. Durante a década de 1960, a KKK atuou ativamente contra a luta pelos direitos civis travadas pelos negros, utilizando sempre de ações violentas. 
Dessa forma é compreensível a aparição constante da KKK em nossa história e o fato de um dos principais inimigos do Foice-e-Martelo ser justamente o líder máximo da organização racista: WP.

O Caso James Meredith: O oitavo episódio da nossa saga ocorre na cidade de Jackson, Mississipi durante o acontecimento que ficou conhecido como “O Caso James Meredith”. Na nossa história Foice-e-Martelo e seus companheiros enfrentaram racistas e a Ku Klux Klan. Também apareceu pela primeira vez o vilão WP. Assim como foi dito em nossa história, o caso real aconteceu quando o estudante negro James Meredith teve seu ingresso na Universidade do Mississipi negado pelo próprio governador. Em 20 de setembro de 1962, no início do ano letivo americano, o estudante, após ter ganhado de causa nas cortes federais pelo direito de ingresso na Universidade do Mississipi, teve sua tentativa de entrar no campus impedida por duas vezes, por interferência pessoal do próprio governador do estado, que declarou que “nenhuma escola do Mississipi seria integrada enquanto ele governasse o estado”. Após a apelação de Meredith à corte federal, que instituiu uma multa diária de dez mil dólares por cada dia que ele fosse impedido de entrar na faculdade, Meredith conseguiu ingresso escoltado por agentes federais enviados por Kennedy. A medida acabou causando uma verdadeira batalha campal entre estudantes e civis brancos contra os agentes de escolta de Meredith. O conflito deixou um saldo de dois mortos e dezenas de feridos.
A diferença entre a história real e a que se passa em nossa saga, além da interferência de personagens fictícios, está na presença do líder negro Malcolm X na região.

Portuários de Oakland: Não é atoa que a cidade de Oakland, na Califórnia e mais especificamente o porto desta cidade aparece tantas vezes na nossa saga e tem papel crucial na construção da Revolução estadunidense. Fui inspirado por uma notícia que li em 2010 a qual dizia que mais de 800 ativistas sindicais e comunitários bloquearam o cais de Oakland durante a madrugada. Os estivadores se negaram a cruzar as linhas do piquete e impediram a descarga de um barco israelense.  “De 5:30 as 9:30, um protesto militante e espirituoso ocorreu em frente às quatro portas do Serviço de Estiva da América, com as pessoas cantando sem parar "Livre, Palestina livre, não cruze a linha do piquete” e "Um ataque contra um é um ataque contra todos, o muro do apartheid vai cair". E essa foi minha homenagem aos portuários de Oakland.

Marcha sobre Washington: A Marcha sobre Washington por Trabalho e Liberdade foi uma manifestação política de grandes proporções ocorrida na cidade de Washington D.C., capital dos Estados Unidos, em 28 de agosto de 1963. A marcha foi organizada e liderada - entre outros - pelo advogado, pastor, ativista dos direitos humanos e pacifista Martin Luther King e reuniu mais de 250.000 pessoas na cidade para clamar por liberdade, trabalho, justiça social e pelo fim da segregação racial contra a população negra do país.
            Foi durante essa marcha que o reverendo King pronunciou seu famoso discurso “Eu tenho um sonho”, exposto minimamente em nossa história. A acusação que aparece na saga do Foice-e-Martelo, de que sobre sua liderança a manifestação deixou de ser reivindicatória para ser um ato pró-Kennedy, também é baseada em fatos reais e foram feitas pelas demais concepções sobre movimento negro e organizações revolucionárias.
            Evidentemente, durante seu discurso, Martin Luther King não foi assassinado nem por um super vilão nem por um vilão nenhum, como ocorre em nossa história. Seu assassinato ocorre cinco anos depois em Memphis, na data de 4 de abril de 1968.


Malcolm X: Malcolm X provavelmente é a apropriação mais profunda de um personagem da vida real para nossa história fictícia. Malcolm surge com participações importantes na primeira temporada e também está presente na segunda e na terceira. Mas é durante a terceira temporada que ele se torna um dos personagem principais ao lado de Errico, Clara, Leonard e outros.
Malcolm nasceu no dia 19 de maio de 1925, Omaha, Nebraska e passou parte importante de sua vida no Harlem. Tanto na nossa história, como na vida real, ele ganha proeminência política quando fazia parte do grupo chamado Nação do Islã, que defendia uma concepção de movimento negro, em que deveria haver segregação e autonomia das comunidades negras em relação aos brancos. Na vida real, Malcolm entra em conflito com sua organização após declarações feitas a respeito da morte de Kennedy.
Depois disso, o líder negro faz uma peregrinação à Meca, que todo mulçumano deve fazer uma vez na vida e ao voltar muda suas concepções ideológicas. Funda a Organização da Unidade Afro-Americana, um grupo não sectário e não religioso que defende que a superação do racismo só poderá ocorrer com a superação do capitalismo.
Essa trajetória política é preservada em nossa história, com algumas alterações básicas para que se encaixasse perfeitamente na ficção. Até mesmo o primeiro diálogo que Foice-e-Martelo e Clara tem com Malcolm após sua saída da Nação do Islã foi baseado em fatos reais. Um repórter pergunta à ele: “Você ainda acredita que os brancos são demônios?” e Malcolm responde: “Os brancos são seres humanos na medida em que isto for confirmado em suas atitudes em relação aos negros”.
Outra mudança importante é que na vida real Malcolm morre em 1965. Em nossa história... Bom... Leiam as próximas temporadas.

Segunda Temporada


Assassinato do Presidente John F. Kennedy. No dia 22 de Novembro de 1963, em Dallas, Texas, Estados Unidos às 12:30, Kennedy foi mortalmente ferido por disparos enquanto circulava no automóvel presidencial na Praça Dealey, como parte do seu preparativo para a campanha de reeleição no ano seguinte. Duas investigações oficiais concluíram que Lee Harvey Oswald, um empregado do armazém Texas School Book Depository, foi o assassino.
            Em nossa saga, o assassinato de Kennedy foi à verdade um golpe planejado pelos três principais vilões da história, juntamente com Lyndon Johnson para tomar o poder e reprimir os comunistas. Essa é certamente uma ideia absurda se formos transpor-la para a vida real, mas ainda assim não totalmente sem fundamento.
            De fato, como poucos sabem, Lee Harvey Oswald se reivindicava comunista. Uma investigação não oficial, que faz parte de mais uma das inúmeras teorias da conspiração sobre o fato, diz que Oswald pode ter sido levado à acreditar que estava cumprindo ordens diretas de Cuba, em uma trama organizada pela máfia que estava sofrendo duras perdas com as ações de John Kennedy. Quando Oswald pediu proteção especial em Washington para falar sobre o crime, ele foi morto por Jack Ruby que também morreu na cadeia sem explicar direito o motivo de ter matado o assassino de Kennedy.
            Clara que tudo isso não passa de teorias e para o estudo de História são apenas divertimento. Porém, isso me ajudou a fazer a trama que será crucial para o desenvolvimento da história.    

 Lyndon Johnson: Foi o presidente que substituiu Kennedy após o seu assassinato. Tirando o fato de que ele não se articulou em um golpe junto com três super vilões, Johnson realmente foi o primeiro a enviar oficialmente tropas para o Vietnam e foi o primeiro a sofrer com os protestos contra a guerra.

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